Cris Pereira: humorista 'defensor da família' é condenado a 18 anos

Cris Pereira: humorista 'defensor da família' é condenado a 18 anos por estupro de vulnerável
A persona pública era clara: um comediante que fazia o Brasil rir e um candidato a deputado que defendia a "família tradicional". Mas uma decisão judicial demoliu essa imagem, revelando um escândalo de proporções devastadoras que incendeia as redes sociais.
Cris Pereira, conhecido pelo personagem Jorge da Borracharia em "A Praça é Nossa", foi condenado a 18 anos, 4 meses e 15 dias de prisão em regime fechado. O crime, segundo a Justiça do Rio Grande do Sul, desafia a compreensão: estupro de vulnerável contra sua própria filha, que na época dos fatos tinha apenas 4 anos de idade.
A sentença cria um contraste brutal. O homem que em 2022 pediu votos sob uma plataforma 'conservadora', alinhado à base de Bolsonaro, agora é confrontado com uma condenação por um ato de violência extrema dentro de seu próprio lar. Enquanto sua defesa alega inocência e um erro judicial, a pergunta que ecoa é inevitável: como a imagem pública pode ser tão distante de uma realidade apontada pela Justiça?
O político: a bandeira da "família tradicional"
Para entender a dimensão do escândalo, é preciso ir além do comediante. Em 2022, Cristiano Pereira se apresentou ao eleitorado gaúcho como candidato a Deputado Federal pelo PRTB. Sua plataforma era clara, focada em pautas conservadoras e na defesa da "família tradicional brasileira".
Seu discurso político, alinhado ao bolsonarismo, o posicionava como um guardião de valores morais. É exatamente essa persona política que torna a condenação por um crime tão grave e de natureza familiar ainda mais chocante para o público, gerando acusações de hipocrisia e um debate acalorado nas redes sociais.
A condenação: uma reviravolta judicial
A decisão da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do RS representa uma reviravolta completa no caso. A bomba da condenação em segunda instância caiu sobre o artista depois que ele havia sido, inicialmente, absolvido por falta de provas no primeiro julgamento.
Qual foi a pena e o que ela significa?
A pena de mais de 18 anos em regime fechado é uma das mais severas e reflete a gravidade do crime de estupro de vulnerável, que é classificado como hediondo. Isso significa que, se a decisão for mantida, o humorista iniciará o cumprimento em uma penitenciária, com regras mais rígidas para qualquer progressão de regime.
A vítima no centro do processo
O processo corre em segredo de justiça para proteger a vítima. O que se sabe é que se trata da filha do humorista. A tenra idade da criança na época dos fatos, apenas 4 anos, é um dos elementos que mais causa comoção e revolta pública.
Acusação x Defesa: a guerra de narrativas
De um lado, a advogada da mãe da criança, Aline Rübenich, fala em uma "tentativa de silenciamento". Segundo ela, Cris Pereira moveu um processo paralelo acusando a mãe de alienação parental, uma tática que ela classifica como "recorrente" para intimidar mulheres que denunciam violência. Para a acusação, a condenação unânime do tribunal é a prova final da culpa do réu.
Do outro lado, a defesa de Cris Pereira, comandada pelo advogado Edson Cunha, sustenta que seu cliente é inocente. A principal linha de argumentação é que a decisão de segunda instância foi um "erro judicial" que ignorou "todos os laudos periciais oficiais", os quais, segundo eles, comprovavam a inexistência do crime. A defesa se apega à absolvição inicial e afirma que vai recorrer às instâncias superiores em Brasília.
O que diz o SBT?
Em meio à explosão do caso, a emissora SBT, casa de "A Praça é Nossa", adotou uma postura protocolar. Em nota, afirmou que "não foi notificado e nem informado a respeito dessa possível ação", aguardando desdobramentos oficiais para tomar qualquer atitude em relação ao contrato do comediante.
O futuro de Cris Pereira
Apesar da condenação, o humorista não será preso imediatamente. A defesa tem o direito de recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão só ocorrerá após o esgotamento de todos os recursos, no chamado "trânsito em julgado".
No entanto, o tribunal da opinião pública já deu sua sentença. A carreira construída ao longo de 30 anos enfrenta seu momento mais sombrio. Shows podem ser cancelados, contratos revistos e, mais importante, a imagem do comediante que defendia a família enquanto fazia o país rir foi, talvez, permanentemente destruída pela dura realidade de um processo judicial.
Enquanto a batalha judicial se arrasta para os tribunais superiores em Brasília, o veredito das ruas parece que já foi dado. Para milhões de brasileiros, a máscara do comediante e do político "pró-família" caiu de forma irreversível.
A imagem construída ao longo de 30 anos não enfrenta apenas um obstáculo, mas um abismo. E no fundo desse abismo, fica a pergunta que o público não consegue silenciar: como é possível voltar a rir de uma piada contada por ele? A cortina, para o artista que encantava multidões, parece ter se fechado no palco da opinião pública, onde possivelmente não há recurso que possa anular a sentença.