"Tem mulher que merece apanhar": a frase da vereadora que parou o Brasil.

Publicado em 30/09/2025 15:15

Vereadora defende violência: o que há por trás da fala chocante?

Você já imaginou ouvir de um político eleito que a violência é justificável? Agora, imagine que essa defesa venha de uma mulher, direcionada a outras mulheres. Foi exatamente o que aconteceu e a gravação é a prova de que a realidade, às vezes, supera qualquer roteiro. A frase "tem mulher que merece apanhar" não só chocou o plenário de uma pequena cidade no Amazonas, como acendeu um alerta em todo o Brasil.

A declaração explosiva veio da vereadora Elizabeth Maciel (Republicanos), mais conhecida como Betinha, na cidade de Borba (AM). Em poucos segundos, seu discurso se transformou em um viral de indignação e levantou perguntas urgentes. Seria apenas um deslize impensado ou o reflexo de um problema muito mais profundo e silencioso que ainda assombra nossa sociedade?

A frase que parou o Brasil: "Tem mulher que merece apanhar"

Em uma sessão na Câmara Municipal que deveria ser como qualquer outra, a vereadora Betinha pediu a palavra e, em um tom firme, proferiu as palavras que marcariam sua carreira política. A defesa da violência foi clara, direta e sem hesitação.

O que exatamente disse a vereadora Elizabeth Maciel?

"Eu aprovo, eu sou a favor da violência contra mulher. Sim, quando um homem bate na mulher eu aprovo. Tem mulher que merece apanhar", afirmou a parlamentar. Para justificar sua posição, ela alegou já ter testemunhado casos em que mulheres se automutilaram para, segundo ela, acusar homens injustamente de agressão. Uma acusação grave que adicionou ainda mais combustível à fogueira.

Veja o vídeo:

O contexto: defendendo um colega e atacando outra parlamentar

A fala não surgiu do nada. Betinha estava defendendo o vereador Pedro Paz (União Brasil), que havia sido denunciado pela vereadora Professora Jéssica (Democracia Cristã) por um gesto intimidador durante uma sessão. Betinha minimizou a atitude do colega e direcionou seu ataque a Jéssica, criticando mulheres que, em sua visão, tentam se beneficiar indevidamente da Lei Maria da Penha. A defesa de um aliado político acabou se tornando um ataque a milhões de mulheres brasileiras.

A retratação: um pedido de desculpas inevitável

A repercussão foi imediata e avassaladora. Vídeos do discurso se espalharam pelas redes sociais, gerando uma onda de críticas e repúdio. Pressionada pela opinião pública, Betinha não teve outra escolha a não ser voltar atrás.

A nota oficial e o reconhecimento do erro

No dia seguinte, a vereadora divulgou uma nota de retratação e um vídeo. Ela classificou suas próprias palavras como "inadequadas, desrespeitosas e incompatíveis com os princípios de dignidade, igualdade e respeito". Assumiu total responsabilidade e expressou profundo arrependimento, pedindo perdão a todas as mulheres que se sentiram ofendidas.

A justificativa surpreendente: um trauma familiar por trás da fala

Em seu vídeo de desculpas, Betinha revelou um detalhe que adicionou uma nova camada de complexidade ao caso. Ela tentou justificar sua fala mencionando um trauma: "Me reportei daquele jeito porque na minha família já houve caso que veio a óbito". A declaração, embora vaga, sugere que uma tragédia pessoal pode ter moldado sua visão distorcida sobre o tema, transformando o que parecia ser apenas um discurso de ódio em um caso psicologicamente mais intrincado.

Veja o vídeo onde a vereadora se justifica: 

Quem é Betinha? A trajetória da vereadora de Borba

Antes de se tornar nacionalmente conhecida por essa polêmica, Elizabeth Maciel era uma figura política local no município de Borba, uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes no interior do Amazonas.

A filiação ao Republicanos e o silêncio do partido

Betinha é filiada ao Republicanos, um partido que, nacionalmente, tem uma bancada conservadora e forte presença de lideranças evangélicas. Após a declaração da vereadora, a imprensa buscou um posicionamento do diretório estadual do partido, mas, inicialmente, encontrou silêncio, o que aumentou a pressão sobre a legenda para se manifestar sobre a conduta de sua representante.

Atuação política antes da polêmica

A atuação de Betinha antes do escândalo era focada em questões locais de Borba. Sua ascensão à notoriedade nacional, infelizmente, não se deu por um projeto de lei ou uma conquista para a comunidade, mas por uma fala que vai na contramão dos direitos humanos mais básicos.

A polêmica vai além de uma frase: o que os dados revelam?

A fala da vereadora, por mais chocante que seja, não existe em um vácuo. Ela ecoa em um país e, especificamente, em um estado onde a violência contra a mulher é uma epidemia com números alarmantes.

A realidade da violência contra a mulher no Amazonas

O estado do Amazonas, onde Borba está localizada, possui índices preocupantes de violência doméstica. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a região Norte frequentemente figura entre as mais perigosas para mulheres no Brasil. A cultura do machismo estrutural, as vastas distâncias geográficas que dificultam o acesso a redes de apoio e a subnotificação tornam o cenário ainda mais grave. A fala de uma autoridade validando a agressão é, portanto, especialmente perigosa nesse contexto.

Lei Maria da Penha: por que ela ainda é tão necessária (e criticada)?

A Lei Maria da Penha, citada pejorativamente pela vereadora, é um dos maiores marcos na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Criada para proteger e oferecer mecanismos de denúncia, ela é fundamental para salvar vidas. No entanto, a lei ainda é alvo de críticas e desinformação, muitas vezes por pessoas que a acusam de ser "rígida demais" ou de "beneficiar" mulheres que fariam denúncias falsas. A fala de Betinha reforça esse perigoso estigma contra uma legislação essencial.

A reação do público e as consequências políticas

A internet não perdoou. A declaração de Betinha foi recebida com uma avalanche de comentários negativos, memes e pedidos de cassação de seu mandato.

Como a internet reagiu à declaração de Betinha?

Usuários de redes sociais, ativistas, celebridades e outros políticos se manifestaram, repudiando a fala e expressando solidariedade às vítimas de violência. O nome da vereadora rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados, com a grande maioria das menções exigindo uma resposta firme da Câmara de Borba e de seu partido.

O futuro político da vereadora está em risco?

Após o pedido de desculpas, a grande questão que permanece é sobre as consequências práticas para a vereadora. Grupos da sociedade civil e outros parlamentares podem apresentar denúncias formais por quebra de decoro parlamentar, o que poderia levar a um processo de cassação. Independentemente do resultado legal, sua imagem política foi permanentemente manchada, e sua credibilidade para legislar em nome do povo, especialmente das mulheres, foi severamente comprometida.

Conclusão: uma fala infeliz ou sintoma de um problema maior?

O caso da vereadora Betinha é um lembrete doloroso de que a luta contra a violência doméstica é mais complexa do que imaginamos. A ideia de que "mulher merece apanhar" ainda vive no imaginário de parte da sociedade, e quando essa ideia é verbalizada por uma representante eleita, o perigo se torna ainda maior.

Sua retratação e a menção a um "trauma familiar" não apagam o dano, mas abrem uma janela para uma discussão necessária: como o próprio sofrimento pode, por vezes, ser distorcido e transformado em um discurso que perpetua a violência contra outros? A fala de Betinha não foi apenas um erro; foi o sintoma de uma sociedade que ainda precisa educar, debater e lutar incansavelmente para que ninguém, muito menos uma mulher, precise ouvir que merece ser agredida.